segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Um terço dos professores chumbou na PACC... e Nuno Crato sorriu!

Já há alguns dias que ando para escrever um artigo sobre a prestação do ministro Nuno Crato no programa da SIC-Notícias "Por onde vamos". No referido programa, Nuno Crato voltou a insistir na questão de haver uma verdadeira exigência na preparação dos futuros professores saídos das Faculdades. Voltou a falar na necessidade de haver avaliação docente. Ou seja, voltou a defender a "sua" PACC. Curiosamente ou não, voltou a nada referir sobre a formação contínua de professores, esta sim uma necessidade premente nas nossas escolas. Ou seja, parece haver uma grande preocupação em, através da PACC "afunilar" o acesso à profissão docente, enquanto que para os que já estão no sistema (e recorde-se que são largos milhares aqueles que, já dando aulas há mais de cinco anos, continuam sem ter certezas acerca do seu futuro) o ministro nada diz...
Como sabemos a natalidade tem vindo a decrescer, o que acompanhado de uma emigração que não cessa, conduz a uma situação crítica: estamos numa profissão, onde a "matéria-prima" tende a escassear. Depois há que acrescentar o problema do despovoamento das regiões do Interior que, na prática, irá levar a que no espaço de menos de duas décadas, muitas escolas do Interior tenham de fechar portas. E não me refiro a escolas do 1º ciclo, mas sim a escolas dos 2º e 3º ciclos. Muitas escolas irão, forçosamente, agregar-se. Enfim, o futuro não é risonho para quem trabalha na área da Educação.
Ora, com tantos professores do quadro ainda longe da idade da reforma sem terem certezas sobre o seu futuro e com tantos professores ainda sem vínculo ao MEC, mas com largos anos de experiência (e, portanto, à espera do surgimento de vagas para poderem efectivar) é, no mínimo, risível que o ministro Nuno Crato continue a perder tanto tempo dos seus discursos com a conversa de que há a necessidade de se ser exigente com os jovens saídos da Faculdades e que optaram por serem professores! Por isso é que não se compreende que se continue a insistir com esta farsa da PACC, enquanto que aos outros, aqueles que já têm largos anos de experiência e que, muitas vezes, estão ávidos de novas formações e especializações, o MEC pouco ou nada apresenta em termos de formação adequada, séria e acessível. Quantos de nós tivemos de pagar do nosso bolso uma qualquer formação para obtenção de créditos, porque a ela somos obrigados? Ou quantos de nós nos sujeitámos à frequência de uma qualquer acção de formação sem qualquer interesse, mas que por necessidade de créditos, tivemos de frequentar? E quantos de nós apostámos, do nosso bolso, na frequência de uma pós-graduação ou de um mestrado apenas para nossa satisfação pessoal, sem grandes regalias ao nível da carreira? Entretanto, o MEC perde tempo com a PACC!!!
Crato fala muito de avaliação, de exigência e de preparação adequada na formação dos novos professores (quantos deles conseguirão mesmo ser professores?), mas parece ignorar, por completo, de forma propositada ou não, a necessidade do MEC apostar, de forma séria, na formação daqueles que já estão no sistema há muitos anos e que, realmente, deveriam ser a prioridade da tutela. É que sem (bons) ovos não se fazem (boas) omeletes e, seria importante que o MEC se preocupasse, também, com aqueles professores que já servem o MEC há muitos e largos anos...
Entretanto, ficámos hoje a saber que um terço dos professores que fizeram a PACC chumbaram. Lá teremos de ouvir Nuno Crato vir dizer que tinha razão, que os resultados da PACC demonstram a necessidade da avaliação, que isto já deveria ter sido feito há mais tempo, blá, blá, blá... e quanto ao realmente importa, nada...